Wednesday, September 15, 2010

A SITA VALLES E O PECADO ORIGINAL DA EXTREMA ESQUERDA

A propósito de um texto do Público, da autoria de José Manuel Fernandes, recordando Sita Valles, tida como uma espécie de heroína/mártir, morta às mãos do MPLA na sequência do 27 Maio de 1977, recordo outras pessoas também envolvidas em revoluções ou candidatas a elas.

Da malta de extrema esquerda (incluindo os PC's) do "meu tempo", isto é, activos desde poucos anos antes do 25 de Abril, só os afectos ao MPLA pasaram pela experiência de o seu partido ter chegado ao Poder, com todas as consequências que isso acarreta.

E não é nada pouco: todos nós defendíamos regimes totalitários (que eram o nosso modelo) de partido único em que a polícia política e a repressão dos adversários políticos (inclusivé dentro do Partido...) eram instrumentos imprescindíveis para manter o Poder.

Essa circunstância, essa colagem a ditaduras implacáveis, é o que eu chamo o PECADO ORIGINAL DA EXTREMA ESQUERDA.

Não éramos suficientemente novos (nem ignorantes - nem surdos) para não sabermos o que era o KGB, a Stasi, e as réplicas nas "democracias populares", Chinas e quejandos.

Assim, quando uma Sita Valles se envolve num golpe (sangrento) que não triunfa e é reprimido de forma sangrenta (e de que maneira!) parece-me ridículo que se endeuse a Sita por ter sido morta (e violada, ao que se diz) pelo MPLA-Neto e não se pondere no que ela teria feito (ou mandado fazer...) se a facção triunfante tivesse sido o MPLA-Nito.

Conheci pessoalmente o Nito Alves no período entre o 25 de Abril e a independência de Angola, mas nunca me recebeu depois da independência, se bem que tenha abonado o meu "salvo conduto" para entrar em Angola, onde permaneci até 1988 e onde estava aquando do 27 de Maio. Talvez o facto de não me ter recebido me tenha livrado de ser expulso de Angola após o 27 de Maio. Nunca falei com a Sita, mas conhecia-a bem como irmã de um colega de Liceu (também ele morto depois do 27 de Maio) e de Lisboa, do meio associativo pré-25 de Abril.

Não tenho grandes dúvidas que o extremismo ou pureza ideológica (o que quer que isso fosse) do grupo teria feito séria mossa em Angola principalmente em comparação com o regime de José Eduardo dos Santos, muito mais pragmático e moderado que o entretanto falecido Guia Imortal...

No meio disto tudo, a malta universitária, envolvida "em política", que chegou "ao poder" com o MPLA, naturalmente envolveu-se nas estruturas governamentais, inclusive na polícia política.

Que horror!, dizem colegas meus, envolvidos até ao pescoço em movimentos que tinham a China, a Albânia e outros "paraísos" como modelo, com uma cara de pau e uma hipocrisia que me espanta.

Como teríamos procedido nós outros se, por absurdo, o nosso PCP, ou a nossa UDP ou nosso glorioso MRPP tivessem chegado ao Poder? Hã?! Como?

Por essas e outras é que eu sempre mantive um relacionamento perfeitamente normal com os puristas do MPLA ou de grupos de extrema esquerda e também com a malta do MPLA, inclusive da DISA.

Numa festa de aniversário (meu), reuni um lote de ex-presos políticos (os tais puristas OCA's, Comités Amilcar Cabral, PCP Angolano, etc) meus compinchas de pesca e Mussulo, com um con-cunhado meu que eles bem conheciam dos tempos da prisão por ser membro destacado da polícia política. Fui um bocado criticado pela brincadeira, mas a coisa correu sem chatices e toda a gente se portou na linhaça...

Esse meu con-cunhado e a Sita Vales (ele, José Vale, padrinho de casamento do irmão da Sita) estão ambos mortos. Seria engraçado imaginá-los no Além (em cima ou em baixo...) a contarem um ao outro como teriam sido os seus papéis se o resultado do 27 de Maio tivesse sido inverso...

...e a rirem-se dos que lhes chamam heroína e torcionário.

2 comments:

septuagenário said...

Tambem gostava de ter assistido, mas não se pode estar em todo o lado!

Mas essa do Nito e do Neto...nem sabia que valia a pena distigui-los!

Os mais velhos vamo-nos entretanto olhando para traz.

septuagenário said...

Tambem gostava de ter assistido, mas não se pode estar em todo o lado!

Mas essa do Nito e do Neto...nem sabia que valia a pena distigui-los!

Os mais velhos vamo-nos entretanto olhando para traz.