Wednesday, March 04, 2009

FADO TROPICAL - A PROPÓSITO DO NINO...

A propósito da cena do far, far west, em Bissau, ouvi ontem e hoje as mais desencontradas versões, desde um senhor que me dizia que o Nino, nos tempos de "absolutismo" dos anos 80 tinha capado o extinto Chefe da Tropa, que agora foi duplamente vingado, até às habituais ladainhas de que a população da Guiné está agora muito pior que no "nosso" tempo... porque tinha um presidente sanguinário, déspota que mandou matar montes de pessoas.

E no "nosso" tempo, pergunto eu, espantado?!

É preciso ter lata, poça!

Ouçam o FADO TROPICAL do Chico Buarque D’Holanda e acompanhem com as imagens alusivas aos bons tempos coloniais; bons tempos para os apaparicados colonos, claro!

Enjoy e, por favor, sejam um bocadinho críticos quando alguém vos vem, de mansinho, defender os bons tempos em que milhões eram arrebanhados para trabalharem para o enriquecimento de uns quantos colonos, alapados numa terra que não era a deles, oportunamente "descoberta" pelos seus antepassados.

Mesmo que os beneficiados fossem uns gajos cheios de bom coração, uns tais colonos achinfalantes, libidinosos e bonacheirões, fazedores de impérios e de mulatas, como no fado do Chico, sempre prontos a aviar as negrinhas e a castigar os malandros, mesmo assim, não me digam (por favor!) que ser criado, sem perspectivas de deixar de servir o senhor até cair de velho, é vida digna de ser vivida.

Acham que é?!

Dou-vos música, que não é nada mau!

Para além do Fado Tropical, ouçam também o Tanto Mar, também do Chico, no que penso ser a versão original, ou próximo.

"Sei que estás em festa, pá, fico contente; enquanto estou ausente guarda um cravo para mim..."

E aqui a versão completa do Fado tropical, se bem que com a sífilis cortada...

Oh, musa do meu fado oh, minha mãe gentil

te deixo consternado no primeiro Abril

mas não sê tão ingrata não esquece quem te amou

e em tua densa mata se perdeu e se encontrou

ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal

ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"sabe, no fundo eu sou um sentimental

todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo...(além da sífilis, é claro)

mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar

meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

Com avencas na caatinga alecrins no canavial

licores na moringa um vinho tropical

e a linda mulata com rendas do alentejo

de quem numa bravata arrebato um beijo

ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal

ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"meu coração tem um sereno jeito e as minhas mãos o golpe duro e presto

de tal maneira que, depois de feito desencontrado, eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito é que há distância entre intenção e gesto

e se o meu coração nas mãos estreito me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta ostento a aguda empunhadora à proa

mas o meu peito se desabotoa

E se a sentença se anuncia bruta mais que depressa a mão cega executa

pois que senão o coração perdoa..."

Guitarras e sanfonas jasmins, coqueiros, fontes

sardinhas, mandioca num suave azulejo

e o rio amazonas que corre trás-os-montes

e numa pororoca desagua no tejo

ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal

ainda vai tornar-se um imenso Portugal

ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal

ainda vai tornar-se um império colonial...

3 comments:

septuagenário said...

Até que na Guiné, são as figuras das chefias que se vão assassinando umas às outras, enquanto noutros paises, tipo Congo, e mesmo Angola ou Serra Leoa, etc., é logo aquela guerra de centenas ou milhares.

E, quando se fala no narcotráfico de Bissau, já atinge aquela região envolvente, e o problema é tão encrencado que se fala por aí na CPLP para resolver...devem estar a sonhar.

Andei por lá uns anitos, e apesar de um pequeno território, é mais intrincado e complicado do que Angola naquele tamanho todo.

A sensação de diferença para Angola, é que enquanto em Angola cabem todos à franca, na Guiné vivem apertados às cotoveladas, tipo chega para lá que me estás a pisar.

Cumprimentos

Marques Correia said...

Também achei bizarra essa de a CPLP ir ajudar a repor o ordem, a segurança, etc e tal...
E mesmo a outra sugestão da Nato ou ONU ou outros artolas mandarem para lá uma missão tipo Timor ou Bósnia, parece-me que não estão a ver bem o filme em que se vão meter - se se meterem à força.
Se for com jeitinho, para cair com uns milhõezitos, a malta agradece, se eles forem distribuídos tendo em conta as "sensibilidades" locais.
Constou-me que "os franceses" têm um gajo "preparado" para "avançar", caídos que foram o Nino, apoiado "pelos franceses" e o outro, Vaia Qualquer Coisa, mais virado para os Camones.
Isto parece-me a volta à guerra fria, agora em versão mais soft...

septuagenário said...

A "guerra fria" a que alude, já existia na velha guerra do ultramar.

Os ingleses e os fraceses são tão ou mais respnsáveis da bandalheira que se passa e passou, tanto nas ex-colónias portuguesas como belgas.

E as elites desses paises, põem-se a jeito quando pode vir algum proveito pessoal.

Os ingleses atravez da Gambia estão metidos na embrulhada da guiné e da casamance.

Mas aquilo é tão intrincado que quem conhece bem são os caboverdeanos, mas estão de mãos e pés amarrados, porque não querem guerra nem com frança nem com inglaterra e nós. Mas eles é que poderiam ajudar.

Mas na minha idade, depois de tantos anos por lá, já estou como diziam aqueles que diziam:

Mas ando aqui de arma na mão, se isto não é meu de nem de meu pai!

Enfim, mas vamos olhando.