Saturday, August 16, 2008

Os miliTARs e o Poder

(Ah! parece que as capitanias de Portimão, Lisboa-Cascais, e mais uma que não lembro já terão autorizado a distribuição de maçãs - informa a malta da maçã e da saúde - mas só fora do areal, nos parques de estacionamento, etc; o mini-estério da marinha, contudo, desmente. Porra de país!!!)

Esta estória dos miliTARs continuarem a mandar na sociedade civil - como se estivessemos em guerra, actividade para a qual, supostamente, são competetentes - faz-se lembrar um período negro da nossa história, que ainda durou um bom par de anos, a seguir ao 25 de Abril.

Nesse tempo, os miliTARs eram considerados por si próprios e por uma boa parte da malta de esquerda como legitimamente nomeáveis para uma gama infinita de "funções de chefia" na administração central, nas autarquias, etc, etc, etc.

Nessas funções, na esmagadora maioria das vezes, distinguiram-se por uma incompetência e impreparação só comparáveis à arrogância e à pose de quem tem sempre razão em tudo o que faz e (acima de tudo) em tudo o que pensa. Manda a mais elementar justiça que reconheça que, nesse aspecto, não se revelaram (ai de mim) piores que os civis, eleitos ou nomeados...

... e se as medidas tomadas e as ideias paridas não davam os resultados (por eles) esperados, era por causa dos contra-revolucionários, dos saudosistas e fascistas encapotados, empenhados em fazer abortar a revolução dos cravos.

São desse tempo as famigeradas e felizmente efémeras campanhas de dinamização cultural em que bandos de miliTARs acolitados por malta de esquerda e extrema esquerda, todos sem qualquer experiência relevante de vida, caíam sobre campónios aturdidos e semi analfabetos e sobre eles derramavam os conhecimentos de panfleto, as ideias de targeta policopiada, as regras de convivência democrática à la gauche que excluíam tudo o que fosse à direita do PS, pois nesse campo se acoitavam os contra-revolucionários e saudosistas do tempo da outra senhora. Perigosíssimas criaturas, portanto...

Pobre país e pobres de nós outros que desde (pelo menos) meados do século XIX tivemos que aturar uma longa lista de miliTARs que, só por terem jurado umas larachas mal comppreendidas onde as palavras Honra e Dever eram repetidas até à exaustão, se consideravam com direito (pior: com o dever) de intervir na vida do País, de arma na mão, sempre que considerassem, do alto da sua sapiência, que a Pátria estava doente, que "os partidos" e os "políticos" eram mais corruptos que o aceitável, que os sacrossantos interesses das Forças Armadas estavam a ser lesados.

Sinel de Cordes, Carmona, Gomes da Costa, Mendes Cabeçadas, Carlos Selvagem (de alcunha), os cadetes da Rotunda (ou seriam da Porcalhota), os tenentes de Infantaria 5 (ou seriam de Infantaria 16) entre tantos, tantos outros, são apenas uma amostra dessa cáfila que se considerava com especiais direitos a governar o rebanho e que pontuaram a história recente de revoluções, revoltas e "pronunciamentos" que se saldavam, muitas vezes, em dezenas de mortes.

... e agora, quando o Conselho da Revolução jaz morto e enterrado há largos anos, quando o último presidente miliTAR envelhece no remanço da família e das suas memórias, apercebemo-nos de que, afinal, a tropa continua a mandar sobre largas faixas de território, condicionando todas as actividades que lá se desenvolvem ao seu douto julgamento e à sua duvidosa noção de dever e espírito de missão.

PORRA PARA ISTO!!!!!

7 comments:

Anonymous said...

Essa raiva aos militares, essas análises tão descabidas do seu mérito e da sua honra parecem mesmo despeito de quem desistiu da carreira militar e está agora arrependido, ao ver os colegas chegarem onde ele nunca poderá chegar.
A inveja é um defeito dos fracos e impotentes, dos que decidem mal e não são capazes de assumir a escolha que fizeram.

Um colega

Anonymous said...

Este não é o Zé Correia que eu conhecia há 40 anos. Tenho pena!

Josepe Caio

Marques Correia said...

Josepe Caio?! e esta, hã?!

Não me lembro de nenhum nome parecido, mas não tenhas dúvidas de que não somos os mesmo de há 40 anos.

Pessoalmente, a única pena que tenho é de não ter de novo 18 anos e saber o que sei hoje. Mas a vida é assim: ou aprendemos alguma colisa com ela, ou somos cilindrados por ela.

Não consigo imaginar-me a olhar para trás e não ter hoje uma leitura diferente da que tinha quando vivia os acontecimentos há 40 anos, com a experiência de vida que tenho hoje e (por que não dizê-lo?) com alguma sabedoria, prudência e bom senso que fui adquirindo.

Mas olha que há 30 (trinta) anos eu já via a ingerência dos militares na política como uma coisa negativa, já que mais não fosse porque entravam nela como militares (de arma em punho!), julgando-se com mais direitos que os "simples" cidadãos, e não como "simples" cidadãos fazendo uso apenas dos seus direitos de cidadania.

Tendo deposto previamente, portanto, a farda e as armas.

Mas diz lá mais, moço, a ver se te localizo...

Anonymous said...

Não escrevi que te conheci, mas sim, que te conhecia há 40 anos. A referência ao que pensavas há 30/40 anos não faz sentido!
Não haverá aí alguma ciumeira pelo facto dos teus companheiros do Salvador Correia (Curso e não Liceu) serem hoje coronéis reformados ou generais (de 2, 3 e 4 estrelas)?

Josepe Caio

Marques Correia said...

Caro Caio,
que subtileza, meu, que subtileza: conhecias-me há 40 anos mas não me conheceste nessa altura?
Como diz que disse?!
Então não faz sentido nenhum reflectirmos sobre o que pensávamos há 30, há 40, há 20, há 10 anos, ontem...? Não faz sentido porquê?... explica-te lá, meu.
Quanto às ciumeira, claro que tenho plena consciência de que quando escrevo ou falo, em particular se critico alguma coisa ou alguém, exponho-me à crítica de quem lê e ouve.
Como deves imaginar (se me conheceste - ou conhecias... - há 40 anos) esse lado é para onde eu durmo melhor.
A alternativa, se me preocupasse muito com esse tipo de crítica, seria ficar num silêncio reverente e prudente mesmo que o "grande homem" que eu me abstivesse de criticar fosse uma rematada cavalgadura.
O que, como deves ter reparado, não é nada raro nos "grandes homens", tropa e não tropa.
Prefiro, obviamente, dizer (e escrever) o que me apetece, o que penso, expondo-me à crítica.
Crítica, tout court: construtiva, destrutiva, sensata, despropositada, toda a crítica.
De cara lavada e nome por baixo.
Sem me esconder atrás de pseudónimos e sempre disposto a responder a todas as questões, críticas, insultos... no problem

Anonymous said...

Sem falar da dor de cotovelo que tens em relação aos teus colegas que foram além de coronel, não consegues explicar porque é que um militar tem menos legitimidade que um civil para exercer funções públicas.
Ambos têm igual legitimidade ou a democracia era uma batata!

Anonymous said...

Deu que pensar, hã?
Resposta é que nada...