Saturday, March 03, 2007

A propósito do fim da OPA da SONAE

No editorial do Público de hoje, dia 3 de Março, José Manuel Fernandes (JMF) escreve sobre (melhor dizendo, contra) o fim da OPA da SONAE, que atribui ao facto de Portugal e o Governo serem iliberais.

Concretizando, JMF critica o representante do Estado na AG da PT por se ter abstido e o representante da CGD (a que chama banco do Estado) por ter votado contra a desblindagem dos estatutos da PT.

Com toda a deselegância, o editorialista refere o "passado leninista" do ministro Lino que lhe permite "dizer que o branco é preto sem corar". É engraçado ler este tipo de prosa em JMF, um antigo militante da extrema esquerda (também de matriz leninista, recordo), deixando transparecer antigas guerrinhas que, pelos vistos, o tempo não resolveu.

Ao longo de todo o editorial, JMF assume várias coisas, como as intenções do representante da CGD: terá votado o que o Estado mandou e não o que o CA da CGD entendeu ser o melhor para valorizar (a médio prazo, claro) os seus activos.

Se pode servir de exemplo, este vosso escriba considerou, tal como a CGD, que as suas setecentas e tal acções têm muito melhor futuro na PT do que numa tal SONAE COM, com uma estratégia de desenvolvivento que é , no mínimo, uma incógnita.

Antes de proclamar que escreveria o mesmo editorial mesmo que não tivesse acções na SONAE nem dirigisse um jornal detido a 100% pela SONAE (temos que acreditar que ele é independente; mas quer que acreditemos que o CA da CGA não o é...) ainda nos brinda com uma referência ao patrão Belmiro que terá construído "o único grande grupo económico português (...) a partir do nada a seguir ao 25 de Abril"!

Ó JMF, então a história da empresa que detém o Público a 100% começou "do nada" a seguir ao 25 de Abril?! Informe-se, homem!

Sem beliscar o valor de Belmiro de Azevedo, há que ter a honestidade intelectual de não escamotear o período de gestação e crescimento do Engº à sombra de Afonso Pinto Magalhães (APM), que fundou a SONAE em 1959. É preciso também não esquecer o período conturbado pós 25 de Abril, das nacionalizações selvagens, em que o industrial colocou Belmiro (um "filho do povo") à frente da SONAE acabando por transferir para ele parte das acções (começou com 16% já em 1982), até Belmiro ascender ao controlo do grupo, com a morte de APM.

Controlo que nunca foi aceite pacificamente pela família de Pinto Magalhães, em particular pela viúva, que o contestaram em tribunal. Desistiram do processo sem nunca se ter chegado a um veredito.

Mas isso são outros contos...

1 comment:

Anonymous said...

Periodicamente aparece nos jornais uma lista de gente com sucesso vindos do nada, e Belmiro de Azevedo pertencendo a esse grupo. Poucas vezes são mencionados estes antecedentes. E quando são é apenas em letras pequeninas.Coisas da liberdade de imprensa. Parabens pelo momento oportuno, é pena não ser na 1ª página de um semanário. Antº Rosinha. Alverca