Saturday, March 03, 2007

A democracia representativa e o verniz

Realmente, há muito boa gente que não lida bem com a democracia representativa. Há até quem não conviva bem com democracia nenhuma...

Vem isto a propósito da morte da OPA da SONAE sobre a PT e o chorrilho de disparates que alguns dos derrotados derramaram sobre quem, de microfone em punho, os quis ouvir. Honra seja aos Azevedo, pai e filho, que se portaram na linhaça, bem como ao seu representante na AG.

Ficámos a saber, por exemplo, que o Estado para não interferir, ser neutro, deixar o mercado funcionar, deveria ter votado a favor da desblindagem dos estatutos da PT. Quer directamente, por intermédio do seu representante, quer por intermédio da CGD.

Ou seja, esta gente acha que o mercado começa para fora das portas da AG dos accionistas da PT; o capital representado na AG está fora do mercado, para estas mentes brilhantes.

Por outro lado, estes iluminados acharão que a CGD e as demais empresas detidas a 100% pelo Estado não devem ter administrações independentes, focadas fundamentalmente na valorização dos activos, mas voltar ao tempo dos "komissários" e dos resultados persistentemente negativos que caracterizaram o sector público até há bem pouco tempo. Até se ouvia dizer que as empresas públicas não deviam ter lucros!

Mas não deve ser isso: deve ser só falta de pensar um bocadinho antes de falar ou de escrever...

Com José Manuel Fernandes, no seu já referido (post anterior) editorial no Público de hoje, ficámos a saber (enfim, levando um pouco mais longe o "raciocínio" do senhor) que só é legítima uma decisão (numa assembleia geral ou numa eleição para autarquias, presidenciais, legislativas...) quando a maioria relativa ganhadora multiplicada pela percentagem dos votantes der mais que 50%!!!!!!!!! Ó JMF, ainda estamos no MRPP, ou quê?!

A malta do tempo da outra senhora e (alguns monárquicos) refilam contra o actual modelo de eleições porque quando um governo resulta de uma maioria de, digamos, 47% dos votos expressos, ele tem o apoio de apenas 28,2% dos portugueses, se 40% se tiverem absitido de votar. E olham-nos com os olhos em alvo dizendo:

- 28,2% mandam nos outros 71,8%! É isto democracia?!

Pois é, para JMF como "só" estiveram representados na AG 67,5% do capital e destes "só" 46,6% foram contrários à desblindagem, o antigo stalinista conclui que 31,4% dos accionistas estão a decidir o que os outros 68,6% vão fazer.

Será que JMF chegou da Albânia (ou terá sido da China?) há meia dúzia de meses e ainda não percebeu como funciona "a coisa"?

Se calhar...

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