Tuesday, November 07, 2006

E Bibó Rui Rio, Carago!!!

Desgraçadamente, não parece ser possível falar das atitudes do Presidente da Câmara do Porto sem nos colocarmos (ou sermos colocados pelos nossos interlocutores) numa de duas posições extremas, duas verdadeiras classes socioculturais:
  • ou somos uns grunhos, sem cultura e ressabiados com os intelectuais de esquerda (há outros?!), incapazes de olharmos um objecto sem questionarmos a sua utilidade (e o preço); somos classificados Classe B (ou C, ou mesmo D);
  • ou somos amantes das artes e da cultura e só queremos que os artistas tenham liberdade (e meios) para produzirem a sua arte para nosso prazer e proveito espiritual, e estaremos na Classe A (a boa!);

Assim, no Porto, a rapaziada amante da arte (e, alguns, amantes dos próprios artistas...) e que a si próprios se vêem como tal, vituperam o Rui Rio como o último dos grunhos que recusa ao povão a maravilha que é a arte produzida a expensas dos dinheiros públicos, sem controlo do que produz quem produz, e mantendo o direito de morder a mão que lhes dá o pão (ou cuspir no prato em que lhes é servida a sopa dos pobres).

Tal como na Educação (isso seria outra estória...), na Kultura (e aqui entra o K...) não se olha a despesas e, quem olhar, não estará a zelar pelo dinheiro que, além de público, é escasso, mas apenas a mostrar que despreza a arte e a Kultura. E, portanto, despreza o povão a quem a kultura é servida, com parcimónia, em teatros também públicos, postos à disposição das kultas companhias, à borliú, para gáudio e proveito. Dado e arregaçado!

Parece-me razoável (pelo menos quando a massa não abunda) que a autarquia pague os serviços de companhais de teatro (é quase só esta arte que está em causa), em função da qualidade das peças que tenham preparado e encenado e após selecção dos vários concorrentes, para elas actuarem em teatros municipais. As receitas seriam, claro, para a autarquia. Em alternativa, que concessione parte das salas a quem tiver peito para as explorar.

Não me parece razoável que a autarquia aloje à borla (ou com rendas mensais de 15 contos!) uma ou várias companhias e lhes custeie a existência e actividade, sem lhes impor nada em troca - ou seja, com o subsídio a companhia faz o que quiser (pode até encenar pela n ésima vez a tão batida peça "À espera de Godot" - é verdade, está outra vez em cena...) e no ano seguinte lá está de mão estendida ... e língua afiada.

Como dizia o careca: só em Portugal!

Porra de gente!

3 comments:

Anonymous said...

Pois é; esta manhã, o sr Gobern, na Antena 1, batia mesmo nessa tecla, dizendo uma coisa perfeitamente inconcebível:
Que é um sinal de atraso civilizacional colocar a Cultura num nível abaixo da Educação, do Trabalho e da Saúde.
O senhor Gobern, está visto, deve querer que o governo ou as câmaras sirvam pratos de cultura a quem tem fome e concertos de piano a quem não consegue por os filhos na universidade.

Marques Correia said...

Também ouvi essa diatribe. O João Gobern está a ver se volta à ribalta e agarrou com unhas e dentes a oportunidade que a Antena 1 lhe está a dar.
Mas esta de por ao mesmo nível, como necessidades básicas, a Kultura, a Educação, a Saúde e ... (era o Emprego, salvo erro), não lembra ao menino Jesus. Não lembra, excepto para estratos sociais em que estas necessidades básicas (ou menos básicas) estão satisfeitas e a sua falta é imaginável apenas como um exercício teórico.
Por outras palavras, o Joãozinho fala do que não conhece, 'tá visto!

Marques Correia said...

O larilas do Mega Ferreira, como o orçamento não chega para tudo, cancelou a festa da música e substituiu-a pela ... qualquer coisa da música.

Olha se o rapazinho não fosse compagnon de route, amante da kultura e tudo o mais, estava feito ao bife.
É que privar a média burguesia dos prazeres da música a preços reduzidos (à custa de nós outros...) seria, certamente, merecedor do insulto máximo:
- até parece o Rio Rio!!!!!