Saturday, February 12, 2005

A intervenção cívica vale a pena

Com as eleições à porta, ouve-se com mais frequência a ladaínha de que "os políticos" "são todos iguais", "andam todos ao mesmo", "são uma corja", seguindo-se a conclusão habitual: "eu cá não vou votar; para quê?".

Os mais sofisticados até arranjaram um argumento novo a favor da abstenção, ao descobrirem que, por cada voto, a lei do financiamento dos partidos atribui ao partido que o recebeu 2 Euros (por dia, por mês, por ano? falta-me essa informação).

Estão a ver a ideia: quem vota está "a dar" dinheiro aos partidos. E estão também a ver a conclusão sábia: não votes, para não dares dinheiro a "essa corja".

Os mais "cultos" sacam de textos do virar do século XIX para nos mostrarem que as críticas dirigidas ao Poder de então continuam a fazer sentido hoje. Sugerem que com este sistema político o cidadão não tem hipótese de intervir, não pode fazer nada. "Eles" é que decidem tudo, no interesse "deles".

E a verdade é que muito boa gente (a maioria?) não quer fazer nada... por isso, não faz!

Quando muito, lamenta-se, junta-se aos amigos e lambem as feridas uns aos outros, numa espécie de "Os Vencidos da Vida", versão século XXI.

Contudo, é bom recordar o exemplo de Antero de Quental (autor de muitos dos textos "actuais" que referi), que nunca deixou de intervir, de integrar diversas tertúlias, grupos e grupinhos, do Grupo dos Cinco às Conferências do Convento, da Liga Patriótica do Norte a Os Vencidos da Vida.

Nunca deixou de acossar o Poder (Ávila e Bolama que o diga) e de tentar levá-lo a tomar o rumo que considerava desejável para o País. Não estaremos longe da verdade se dissermos que se suicidou, quando achou que intervinha em vão.

Assim, à guisa de conclusão, diria que intervir na vida social (no clube de rua, no bairro, na cidade, no País) pode ser frustrante, mas ajuda a "ir mudando" as coisas. De algum modo, de Antero até hoje, com avanços e recuos, com rupturas de regime, com golpes e guerras, estamos a anos luz dos problemas que o atormentavam, se não qualitativa, pelo menos, certamente, quantitativamente.

Ou seja, a intervenção cívica valeu a pena, A INTERVENÇÃO CÍVICA VALE A PENA!

No comments: