Friday, December 24, 2004

A SINISTRALIDADE E OS MITOS

A TSF transmitiu hoje, 24 de Dezembro, uma entrevista com o sr Pedro Pita Barros, cientista que trabalha há 14 anos em pesquisa sobre segurança rodoviária.

O seu depoimento, se convenientemente divulgado, viria desmistificar muita coisa que por aí se ouve sobre o assunto e evitar muito disparate. É habitual ouvir-se dizer que os automobilistas portugueses são do piorio, em clara oposição à malta do norte da Europa onde o civismo e a boa educação se reflectem na condução e nos baixos índices de sinistralidade.

Ouvir o Miguel Sousa Tavares (sábio em todas as ciências...) discorrer sobre este assunto é um espanto!

Afinal, diz Pita Barros, o ambiente rodoviário é determinante na condução praticada e na sinistralidade. Este conceito, “ambiente rodoviário” (se bem percebi) engloba tudo o que rodeia e condiciona o acto de conduzir: estrada, regras de trânsito, fiscalização, estado do veículo, etc, etc.

Pita Barros constatou que um condutor do sul da Europa (Portugal, por exemplo) quando transladado para o norte da Europa, sujeito a um ambiente rodoviário radicalmente diferente, rapidamente de ambienta e passa a conduzir de acordo com os hábitos do país (se não o fizer, os mecanismos aí existentes rapidamente o detectam e actuam sobre ele). E, curiosamente, a inversa também é verdadeira: um frio nórdico, educado e cheio de civismo, ao ser transferido para o sul da Europa, rapidamente adopta os hábitos do país e pauta a sua condução pelo conforto do telemóvel na orelha, do cinto de segurança recolhido (que alívio!!!) e, claro, uma velocidade mais viril.

Suspeito mesmo que o nórdico, ao fim de certo tempo, até é capaz de mandar o seu insultozito ao condutor que ousar negar-lhe a prioridade que ele considera sua.

Referiu também que, quando os franceses se deixaram de teorias esotéricas e colocaram radares, muitios, muitos, radares, visíveis e bem assinalados, em muitas estradas, a sinistralidade baixou cerca de 7%, atingindo, em certos troços, abaixamentos superiores a 20%.

Ou seja, como diria Georges Brassens, l’éducation ne fait rien dans l'affaire; o que importa é que o infractor em potência perceba que, se passar ao acto, terá as probabilidades todas contra si.

Claro que as estradas têm que ser boas (piso, traçado, sinalização), os carros têm que ter inspecções a sério para se manterem na rua, as leis têm que prever todas (ou quase todas) as situações e contemplar sanções adequadas e proporcionais à gravidade das infracções ou dos crimes.

E parece claro que a aprendizagem tem que ser a melhor possível e a educação e civismo também ajudam.

Mas o fundamental, mesmo, mesmo, fundamental é que a fiscalização seja eficaz e a sanção rápida.

Capice, Miguel Sousa Tavares?

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